Serra do Amolar, no coração do Pantanal. Como descobrimos esse paraíso escondido.

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O nosso Brasil tem muitos cantos ainda inexplorados, e sou meio obcecado em encontrar esses paraísos escondidos. Depois que soube que o fotógrafo Sebastião Salgado, em seu livro Gênesis, se referiu à Serra do Amolar (que até então eu desconhecia) como uma das regiões mais belas do mundo, pedi à Shubi Guimarães, que há alguns anos havia organizado o mundial de corrida de aventura na Serra do Amolar, que me desse o caminho das pedras para explorar a região.

Foi assim que ela me apresentou o gestor do Instituto Homem Pantaneiro, que gerencia grandes áreas de reserva natural na região. E a partir daí nossa aventura começou a se desenhar.

 

Dia 1 – O 1º contato com o Pantanal e a chegada à Serra do Amolar.

A Serra do Amolar é uma cadeia de 80km de montanhas em meio à maior planície alagada do mundo. Nossa saga para chegarmos até a Serra do Amolar foi a seguinte: voo até Campo Grande, depois um ônibus noturno de leito até Corumbá, cidade que faz divisa com a Bolívia (é possível voar direto pra Corumbá, mas voos costumam ser mais caros). Lá eu e a Verônica (namorada e parceira de todas as aventuras) nos encontramos com Coronel Rabelo, gestor do Instituto Homem Pantaneiro e famoso pelo combate aos caçadores de jacarés na década de 80. Após conhecermos um pouco da curiosa história de Corumbá, palco da Guerra do Paraguai em 1864, pegamos o barco subindo o Rio Paraguai.

Foram cerca de 4 horas rio acima, passando por comunidades ribeirinhas e pela escola Jatobazinho, cuja construção foi bancada por Teresa Bracher, esposa do presidente do Banco Itaú. Chegamos para o almoço na sede da reserva onde seria nossa base pelos próximos dias.

À tarde saímos para nosso 1º contato com a mata pantaneira, que ao nos afastarmos da beira dos rios é uma mistura de cerrado com caatinga. Vimos muitas pegadas de anta, onça e porcos no caminho, e uma variedade impressionante de pássaros que nosso guia Adriano foi nos explicando e mostrando um a um. Foi rápido para termos uma dimensão da impressionante biodiversidade da região.

O destino final era o Morrinho, a 300m de altitude e que nos brindou no fim da tarde com uma vista panorâmica inesquecível da planície pantaneira que sumia no horizonte, com o solitário Morro do Chané em frente. Começamos com o pé direito, já encantados com a Serra do Amolar e animados com o que estava por vir.

Dia 2 – Trilha do Amolar, uma imersão na mata pantaneira

Aqui no Pantanal acordamos às 5:30 para ver o dia clarear e o sol nascer. Um espetáculo! Às 6h00 vem os mosquitos. Logo os pássaros começam um alvoroço e fazem um show de cantoria: caturrica (da família da maritaca / papagaio), jaó, joão colobó, gralha azul, araras e muitos outros.

Às 7h45 começamos uma trilha de 16km que fez nos sentir em um verdadeiro safári, com o pequeno detalhe de estarmos a pé. Cruzamos vales, morros, planícies alagadas com água até os joelhos e vimos quase de tudo: tuiuiú, pica-pau, araras vermelhas posando pra foto, gado, incontáveis tipos de pássaros e um cateto, um grande porco do mato, que para nossa sorte estava sozinho e não se assustou conosco. Quando estão em bando, podem ser bem agressivos, portanto cada um já tinha mirado uma árvore para trepar caso o bichão se irritasse com a nossa presença, mas ele estava tranquilão. Não tivemos a sorte (ou azar) de encontrar uma onça pintada, mas vimos vários ossos de vítimas e pegadas do gigante felino, de anta, onça parda e queixadas.

Pra fechar com chave de ouro, uma volta de caiaque ao pôr do sol às margens do Rio Paraguai.

 

Dia 3 – Piscina natural, birdwatch e o esturro da onça

Todos os dias começavam da mesma forma: às 5:30 abro a porta do quarto e vejo o Rio Paraguai em frente, com o dia clareando no horizonte, e conforme o sol vai aparecendo os pássaros vão cantando cada vez mais animados. Após o café da manhã fomos até a reserva Acurizal, 1 hora de barco rio acima, para conhecer uma piscina natural.

Fizemos a trilha de 8km de bike, com trecho final à pé em uma mata mais antiga com grandes árvores, muitos pássaros cantando e um show à parte da tapuíra, ou “cacique”, uma ave que imita o canto de outras com as quais convive, foi um momento especial.

Após banho nas águas cristalinas da piscina natural, retornamos à Acurizal e ficamos fotografando uma revoada de talhamar, tucanos e tuiuiús, ave símbolo do Pantanal. Tivemos também a grata surpresa de avistar um veado pororoca, ali, parado, posando pra foto antes de saltitar mata adentro.

Na volta de barco à pousada, tentamos localizar uma onça que estava nas redondezas. A expectativa cresceu quando nosso guia Adriano chamou a onça imitando seu esturro e ela respondeu ao longe. No fim, porém, ela resolveu não se mostrar para nós e nos contentamos com uma família de capivaras à beira do rio.

Dia 4 – O grande encontro

Hoje fomos novamente para a região da fazenda e RPPN Acurizal. De manhã conhecemos a Baía da Figueira, com uma diversidade enorme de aves que nos rendeu belas fotos: gavião velho, maguari, entre muitos outros… Seguimos para a Acurizal, onde comemos e ficamos algumas horas descansando, escutando os pássaros e contemplando a paisagem, em paz.

À tarde fizemos uma pequena trilha até um ponto onde os caiaques nos esperavam para um passeio pelo baía. Eu e a Verônica em um, e o Adriano e Luiza (responsável pelo ecoturismo do Instituto Homem Pantaneiro) no outro caiaque.

Foi uma remada boa, e a corrida que apostamos até o outro lado da baía deu pra cansar. Ah, e nós ganhamos, claro (não somos quase nada competitivos hahahaha).

Mas o melhor do dia ainda estava por vir. Sugerimos que fizéssemos um passeio noturno para focagem de animais (o que não existe por lá), pois a lua cheia permitia boa visibilidade. Com auxílio de boas lanternas pra iluminar as margens, identificávamos os animais pelo brilho dos olhos ao serem iluminados. Quando menos esperávamos, a maior surpresa: foco minha lanterna em um barranco e vejo uma enorme cabeça dourada com pintas pretas. Sim, era ela, a onça pintada! Gritei para pararem o barco e fiquei eufórico. Apesar das luzes, do barulho e do barco, a onça mostrou a calma de quem está no topo da cadeia e não tem predador (além do homem!), se escondeu lentamente na mata, e depois foi andando pela margem e se mostrando novamente em alguns breves momentos, quando consegui algumas fotos.

Em nossa última noite na Serra do Amolar, o encontro com a onça fechou com chave de ouro a inesquecível vivência que tivemos nesta semana.

 

Dia 5 – retorno a Corumbá e o surpreendente frio pantaneiro

Após o café da manhã, arrumamos nossas coisas e nos despedimos do nosso guia Adriano, um cara super boa gente, que ama o que faz e é profundo conhecedor da fauna e flora do Pantanal. Ele mora e cuida da RPPN Elieser Batista, onde dormimos todos esses dias.

A viagem de volta duraria 4h30 de barco. No caminho paramos para dar carona à uma moradora de uma comunidade ribeirinha que estava levando seu filho recém-nascido ao médico em Corumbá, mas na canoa em que estavam não chegariam a tempo.

O forte vento do barco tornou a sensação térmica extremamente gelada, e todos tentavam cobrir cada espaço vulnerável do corpo o máximo possível. Quem diria, passamos frio no Pantanal!

Chegando em Corumbá, nos despedimos da equipe e passeamos pela simpática cidade, conhecendo ainda o incrível projeto do Moinho Cultural, que transformou um grande edifício antigo em uma escola de música e dança, com muitas salas super bem equipadas para crianças de toda a região. No dia seguinte voltamos para Campo Grande para pegar o voo de volta para casa. Foi uma semana inesquecível, que pareceu 1 mês com tantas experiências incríveis que vivenciamos. A Serra do Amolar nunca mais sairá da lembrança, e em breve estaremos de volta.

Ficou com vontade de se aventurar pelo coração do Pantanal? Fale com a gente que nós fazemos a consultoria pra você planejar sua viagem.⠀

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