Queimadas no Pantanal

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Pantanal: A Viagem⠀

Fala pessoal, aqui é o Gregory Fenile, trabalho como fotógrafo e sou um dos responsáveis pelo marketing e redes sociais aqui na Ravenala Viagens

Em setembro fui para Porto Jofre no Pantanal afim de documentar as queimadas que aconteceram por lá. E decidimos criar uma série de posts sobre esse assunto e agora reunimos esses posts para criar essa matéria aqui. Vou começar contando como foi minha ida até o Pantanal. Bora lá?

Sai da região de Marília no interior de SP e percorri parte do interior de SP, entrei no Mato Grosso do Sul e segui rumo a Cuiabá. De lá sai em direção a Poconé, onde entrei na Transpantaneira e fui até Porto Jofre, num total de quase 1500km rodados só na ida.⠀

Pelo caminho, mesmo dentro de SP já vi bastante áreas queimadas, mas no MS o calor e a seca aumentaram muito. A fumaça já estava por todo lado, e depois de Cuiabá já não se via mais o céu, somente fumaça.⠀

De Poconé até Porto Jofre são 150km de estrada de terra e quanto mais adentrava na Transpantaneira pior era o cenário. No começo onde o fogo foi menos intenso, ainda se via algumas poucas áreas verdes. Mas logo o verde deu lugar à seca e a destruição. Tudo queimado. Literalmente tudo. Até onde a vista chegava era vegetação seca e queimada. Muitas baias estavam totalmente secas, e algumas pontes queimadas. Os animais se concentravam nas baias onde ainda restava água, mas na estrada onde é comum avistar animais transitando, vi pouquíssimos.⠀

Fiquei alguns dias em Porto Jofre percorrendo trechos da Transpantaneira onde vi muita carcaça de animal morto, e muitos animais em busca de comida e de água. A realidade é: se nada for feito a fome e a sede vão matar mais que o fogo.⠀

Mas também vi muita gente empenhada p/ resgatar os animais feridos pelo fogo e distribuir comida e água para os sobreviventes.

Nos rios a mesma coisa, até nas margens o fogo chegou bem forte e as ongs trabalham forte no rastreamento e resgate dos animais feridos. O que dá uma ponta de esperança foi que em dois dias de rio tive 13 avistamentos de onça pintada, sendo 9 ou 10 onças diferentes e elas estavam saudáveis.

Foi minha primeira vez na região, e apesar das circunstâncias o lugar é incrível. Vale a pena conhecer!

 

Contextualizando a Crise

Agora vamos trazer algumas informações para tentar demonstrar o tamanho do problema que ocorreu neste ano.

Em 2020, tivemos um triste recorde de seca na região Pantaneira, há 47 anos o Rio Paraguai não ficava tão seco. Com o solo tão seco a facilidade para o fogo se propagar é muito maior, fator que contribuiu para outro recorde, o de área queimada.

Tais queimadas que acontecem nessa região todos os anos, de forma “cultural” por fazendeiros, buscando limpar terrenos e renovar pastos, se alastraram muito mais facilmente devido à seca desse ano.

O governo, que deveria agir tanto na prevenção quanto no combate ao fogo, foi omisso em ambas as frentes. O número de multas que o Ibama aplica na região vem caindo drasticamente, o que demonstra pra população um afrouxamento nas medidas de prevenção a crimes ambientais. E na hora de combater o fogo faltou agilidade e os recursos federais foram insuficientes para um incêndio nessas proporções fosse contido.⠀

Esses fatores resultaram em 3,46 milhões de hectares do Pantanal queimados do dia 1º de Janeiro até dia 27 de Setembro deste ano, isso representa 23% de todo o bioma ou o equivalente a 23 cidades de São Paulo ou a uma área 13% maior que toda o país do Bélgica, por exemplo. Em 2020 até o dia 30 de Setembro foram registrados 18.259 focos de incêndio, o maior número já registrado desde 1998, quando o INPE começou a fazer esse monitoramento.⠀

Consequências das Queimadas

O Pantanal é a casa de uma extensa lista de espécies e é considerado um santuário para diversas delas que estão em extinção em outros biomas e encontram ali as condições perfeitas para sobreviver. Mas toda essa destruição pode acabar com tais condições.

Ainda não é possível dizer quantos animais morreram pelo fogo, mas já foram mais de 3.46 milhões de hectares queimados. Isso empobrece o solo, eliminando alguns de seus nutrientes e com a falta da cobertura vegetal, o solo mais exposto perde a umidade que restava. Os animais que sobreviveram ao fogo, morrem de fome. Essa perda de biodiversidade pode ser irreversível, com espécies podendo ser extintas.

Essa crise impacta muitas vidas, e não só no Pantanal. A vegetação controla as chuvas e as temperaturas, além de servir de comida e abrigo para os animais, que também tem o seu papel no equilíbrio do bioma. Cada um cumpre a sua função para que a manutenção da vida seja possível. Um bioma desequilibrado causa um efeito cascata afetando outros biomas entrando num ciclo sem fim, onde o desmatamento leva à seca e à temperaturas mais altas, o que leva a mais incêndios e mortes.

As queimadas em todo o Brasil geraram uma enorme nuvem de fumaça que se deslocou e chegou a cobrir 60% do território, afetando a qualidade do ar. Estudos indicam que essa fumaça tem potencial para aumentar o número de casos de síndromes respiratórias e inclusive os casos graves de Covid.

Tanta morte e devastação não afasta só os animais mas também os turistas. Com seu principal atrativo que é a beleza natural e os animais, sendo devastados, o turista deixa de ir até lá. O Parque Estadual Encontro das Águas, região com maior concentração de onças-pintadas do mundo teve quase 90% de sua área afetada pelo fogo. Não precisa nem falar o quanto o turismo de natureza se vê afetado por uma crise dessas.

Apesar de tudo isso, o Pantanal resiste e ele nunca precisou tanto da gente.

 

Como Posso Ajudar? – Mude o mundo viajando ou até do sofá de casa

Chegamos ao momento mais importante da matéria, em que você se pergunta: como eu posso ajudar?

Chegou a hora de agir, veja algumas maneiras de você ajudar:

  • Divulgue informações

A informação precisa chegar até as pessoas para que as medidas sejam tomadas e você tem na palma da sua mão uma ferramenta poderosa de divulgação: a internet. Compartilhe o que está acontecendo e quem está ajudando, mande para sua família e amigos, afinal isso é do interesse de todos. Mas tome cuidado com fake news.

  • Doações

A forma mais direta de ajudar é doando. É muito caro se manter em campo trabalhando na prevenção e combate a queimadas, e p/ que os voluntários continuem na linha de frente, eles precisam de recursos. Então, se você pode, DOE.

  • Ecoturismo

Esse aqui está no DNA da Ravenela: fazer do ecoturismo uma poderosa ferramenta de transformação pessoal e de preservação do meio ambiente e cultura das comunidades locais. O Ecoturismo ajuda diretamente, injetando dinheiro nas comunidades, e ajuda indiretamente, educando e criando esse senso de pertencimento. A Natureza é nossa casa, precisamos cuidar dela. Vá, viaje, veja com os próprios olhos, sinta. E então cuide pra que outros possam ter essa mesma oportunidade.

  • Vote com consciência

As grandes áreas verdes do Brasil são áreas públicas, geridas pelo Estado, que é quem define as leis e regulamentos p/ podermos usufruir dessa Natureza e dos seus recursos. Logo, um governo que não se preocupa c/ o meio ambiente irá trabalhar menos na manutenção dela e desses recursos. Então, precisamos sim, repensar nosso voto, e buscar candidatos verdadeiramente comprometidos c/ a saúde da Natureza.

  • Repense seus hábitos

Seus produtos, ai na sua casa, podem estar ajudando a financiar esse desastre. Desmatamento, incêndios, agrotóxicos, poluição do ar e dos rios. Tudo isso é fruto de uma mentalidade de consumo tóxica. E o planeta não suporta essa alta demanda de recursos. Então o primeiro passo p/ ajudar não só o Pantanal, mas o Planeta, é repensar seus hábitos e torná-los mais sustentáveis.

 

ESPERANÇA! – Há motivos para acreditar em um futuro VERDE!

Apesar de todo o sofrimento que o Pantanal e outros biomas brasileiros estão passando nos últimos meses com as queimadas ainda é possível olhar o “copo meio cheio”.

A vegetação do Pantanal é resiliente e tem alta capacidade de regeneração. Apesar de “cicatrizes” que poderão durar décadas, após as primeiras chuvas, a paisagem começa a voltar ao seu verde habitual e c/ a flora renascendo os animais começam a voltar pra casa. As plantas crescem, as águas das chuvas enchem as baías, e assim a vida inicia um novo ciclo.

O Pantanal em chamas e o sofrimento dos animais comoveram o Brasil e o mundo, com imagens chocantes estampando capas de jornais em diversos países. E mesmo faltando estrutura, equipamentos e apoio do governo, a mobilização da sociedade civil, ONGs e voluntários p/ ajudar foi enorme.

Isso mostra que estamos cada vez mais engajados com as questões ambientais e nos dá esperança de que o futuro será mais VERDE!

Muitas ações surgiram p/ trabalhar não só na regeneração do Pantanal mas na prevenção de futuros incêndios. É o caso do movimento “O Pantanal Chama” do @sospantanal e da @uniaobrorg que em parceria com instituições ajudam no resgate e proteção dos animais, no suporte as comunidades pantaneiras e na criação de uma brigada permanente para previnir e combater futuros incêndios.

São essas pessoas e atitudes que nos conforta e nos faz crer que o futuro será diferente. Saber que tanta gente se dispôs a ir até lá ajudar e que doou para ajudar quem lá estava, mostra que juntos somos fortes e que queremos um futuro melhor. Esperamos que tais atitudes continuem quando a poeira abaixar e vamos fazer a nossa parte para sempre reforçar a importância da Natureza em nossas vidas.

Apesar de tudo, a natureza resiste. Viva o Pantanal! Viva a Amazônia e todos os ricos biomas brasileiros. Viva o Planeta Terra!

Pra quem chegou até aqui indico a leitura do relato do Marcelo Pontes da sua visita em 2018 para a região da Serra do Amolar, um paraíso escondido no coração do Pantanal que infelizmente também foi afetado pelos incêndios deste ano. Vale a pena dar uma olhada!

Texto e fotos por @gregoryfenile 
Revisão por Marcelo Pontes

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